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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Meus amigos são todos assim:
metade loucura,
outra metade santidade.

Escolho-os não pela pele,
mas pela pupila,
que tem que ter
brilho questionador e
tonalidade inquietante.
Escolho meus amigos
pela cara lavada
e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo,
quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis,
nem choros piedosos.

Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da
realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que
a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos,
nem chatos.

Quero-os metade infância
e outra metade velhice.

Crianças, para que
não esqueçam o valor do vento no rosto,
e velhos, para que
nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou,
pois vendo-os loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que
a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril


Fernando Pessoa

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